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Andréa Alves

Andréa Alves

Andréa Alves é médica veterinária formada pela UNESP (Campus Botucatu) e mestre em Medicina Veterinária, Área de Clínica Médica Veterinária com ênfase em Nefrologia e Urologia pela mesma instituição de ensino.

Tem em seu currículo inúmeras conquistas profissionais como várias publicações científicas em revistas do Brasil e exterior, e atuação na área acadêmica ocupando importantes funções em diversas faculdades.

Realiza atendimento especializado em Nefrologia de Cães e Gatos em oito clínicas veterinárias.

Nessa entrevista, fala sobre o rim dos animais de estimação (em especial dos cães e gatos) e sobre patologias que podem surgir neste importante órgão, tratamentos, prevenção etc.
Confira!

Revista My Pet – Qual a importância do rim no organismo dos animais?
Dra. Andréa – Os rins são órgãos imprescindíveis ao funcionamento normal do organismo. Eles são responsáveis pela filtração do sangue com o intuito de eliminar substâncias tóxicas produzidas pelo organismo a partir da urina. Além disso, os rins têm papel importante no controle da pressão arterial sistêmica; na produção de hormônios que estimulam a produção de hemácias, que são as células vermelhas do sangue; na produção de vitamina D ativa, responsável pela absorção de cálcio no intestino; entre outras funções.

My Pet – Quais animais de estimação podem ter problemas renais?
Dra. Andréa – Dentre os animais de estimação, tanto cães como gatos podem ter problemas renais.

My Pet – Quais são os problemas mais comuns de acordo com cada espécie?
Dra. Andréa – Os problemas renais são muito comuns em cães e gatos. Dentre as principais patologias, destacam-se a doença renal crônica (DRC) e a doença renal aguda (DRA). A DRC é a patologia mais comum, acometendo um em cada dez cães e um em cada três gatos ao longo da vida. Ocorre a partir da persistência de dano renal por pelo menos três meses, sendo que o paciente pode não ter sintomas inicialmente. Os sintomas mais observados pelos tutores são perda de apetite, emagrecimento, vômito com ou sem sangue, diarreia com ou sem sangue, aumento da sede, urina muito clara e volumosa, cegueira, odor forte na boca, indícios de anemia como gengiva mais pálida. Convulsões, confusão mental e dificuldade locomotora também podem acontecer em casos mais graves. Gatos podem ter além desses sinais, dificuldade para defecar e fezes ressecadas. Esses sinais clínicos são característicos da síndrome urêmica ou uremia, ou seja, alterações sistêmicas ocasionadas pelo acúmulo de toxinas. As doenças infecciosas de cães que são transmitidas por carrapatos, como erliquiose, babesiose e anaplasmose; e transmitidas por mosquitos como a leishmaniose e dirofilariose podem levar a DRC. Já em gatos, as principais doenças infecciosas causar a DRC são a imunodeficiência viral felina (FIV), leucemia viral felina (FeLV), peritonite infecciosa felina (PIF) e micoplasmose, mais conhecida como anemia infecciosa felina. Quadros de infecção urinária, obstrução do fluxo urinário por cálculos, doenças renais congênitas, infecção uterina, infecção prostática, doença periodontal, doenças cardíacas também podem promover DRC tanto em cães quanto em gatos. A DRA é uma alteração de início súbito, onde a injuria aos rins acontece em poucos dias ou semanas, e que frequentemente leva a um alto índice de óbito. A DRA acontece a partir da exposição do paciente a substâncias tóxicas, o que inclui algumas medicações antibióticas, anti-inflamatórias e diuréticas. Plantas como o lírio, podem causar DRA em felinos, sendo que não há a necessidade da ingesta da planta, apenas o contato já pode ser suficiente. Frutas como uvas, carambola também podem causar DRA. Infecções sistêmicas, doenças que promovam anemia, acidentes com picada de serpentes e obstruções/ruptura do trato urinário também podem ocasionar a DRA. Os sinais clínicos são bem parecidos com o da DRC, contudo a condição corpórea desses pacientes permanece próxima do normal, sem perda visível de peso. São pacientes que muitas vezes produzem pouca ou nenhuma urina.

My Pet – E os tratamentos disponíveis atualmente para pets. Quais são os relacionados as doenças renais?
Dra. Andréa – O tratamento clínico convencional pode ser realizado em casa para os pacientes em estágios iniciais e avançados, porém estáveis da DRC, e em ambiente hospitalar para os portadores de DRC e DRA que requerem cuidados intensivos. Esse tratamento se baseia em fornecimento dieta específica para nefropatas, medicações recomendadas para o controle dos sintomas relacionados a uremia, fluidoterapia para correção de desidratação e desequilíbrios eletrolíticos e ácido-base, e quando necessário transfusão de hemoderivados em pacientes sob internação. Pacientes com DRA e DRC agudizada podem se beneficiar das técnicas substitutivas da função renal (TSFR) como a hemodiálise e a diálise peritoneal. Na hemodiálise o paciente fica conectado a uma máquina para filtrar o sangue, e dessa forma remover toxinas acumuladas, e o sangue livre de impurezas, retorna ao corpo. Já na diálise peritoneal esse processo acontece no interior da cavidade abdominal. A terapia com células tronco também pode ser uma alternativa interessante para pacientes com DRC em estágios iniciais com o intuito de tornar a progressão mais lenta da doença, objetivando mais qualidade de vida. De qualquer forma, tanto a terapia com células tronco e TSFR são coadjuvantes, não são curativas e devem sempre estar associadas a terapia convencional. O transplante renal, sobretudo em felinos, já uma realidade fora do país, contudo aqui no Brasil ainda há muita discussão em termos éticos e de bem-estar animal.

My Pet – Quais espécies estão aptas a hemodiálise?
Dra. Andréa – Cães e gatos podem ser submetidos a hemodiálise contudo, devem apresentar peso superior a três quilos, visto que se trata de uma técnica de circulação extracorpórea que poderia acarretar em risco de hipotensão arterial e agravamento da lesão renal.

My Pet – Quais são os critérios para esse tipo de tratamento?
Dra. Andréa – Os principais critérios para indicação de hemodiálise em cães e gatos incluem quadros de DRA, intoxicações agudas, sobrecarga de volume ou hiperidratação e agudização da DRC. É um procedimento seguro, entretanto não é isento de intercorrências e riscos ao paciente.

My Pet – É indolor para o animal?
Dra. Andréa – Para a realização da hemodiálise o paciente deve ser submetido previamente a colocação de um cateter venoso central na veia jugular e para tanto pode haver a necessidade de sedação. Alguns gatos podem necessitar de anestesia geral por ficarem muito agitados. No que tange a sessão de hemodiálise, a maioria dos pacientes adormece, não apresentam dor ou qualquer desconforto.

My Pet – Como notar que o animal está com problema nos rins? Somente através de exames periódicos?
Dra. Andréa – É importante que o tutor fique atento a sinais inespecíficos que muitas vezes são observados em várias outras doenças, ou às vezes passam despercebidos. Pacientes em estágio inicial da DRC podem ser totalmente assintomáticos e dessa forma, os exames periódicos de rotina são imprescindíveis para identificá-los.

My Pet – Há uma idade que essas patologias costumam surgir?
Dra. Andréa – A DRC é observada principalmente em pacientes idosos, todavia animais adultos e filhotes também podem desenvolver doenças sistêmicas que repercutem na função renal e ainda serem portadores de doenças congênitas. A DRA pode acometer pacientes em qualquer faixa etária.

My Pet – Há predisposição de algumas raças?
Dra. Andréa – Felinos das raças Persa, Exótico, Maine Coon, Sagrado da Birmânia, Sphynx, Norueguês da Floresta e Devon Rex podem apresentar uma doença congênita e hereditária que é a doença renal policística. Já cães das raças Shih Tzu, Lhasa Apso podem ter displasia renal, doença congênita também de caráter hereditário. Existe predisposição para a amiloidose renal em gatos da raça Abissínio e cães SharPei.

My Pet – Existe prevenção para problemas relacionados aos rins?
Dra. Andréa – Cada vez mais a Medicina Veterinária se preocupa na prevenção das doenças e não somente no tratamento, assim como ocorre na Medicina Humana. Quando pensamos em prevenção das doenças renais, devemos considerar que os animais sejam vacinados para que estejam protegidos contra agentes de doenças infecciosas, que façam uso de medicações preventivas para a infestação de carrapatos e pulgas, assim como de repelentes de mosquitos conforme orientação veterinária. Além disso, é totalmente contraindicado o uso de anticoncepcionais em gatas e cachorras pelo risco de infecção uterina; assim como o uso de medicações anti-inflamatórias e antibióticas de forma indiscriminada sem acompanhamento veterinário; não tenham acesso a rua e tenham contato com animais doentes e se envolvam em brigas ou atropelamentos; não tenham contato com alimentos ou plantas que tenham efeito tóxico aos rins.

My Pet – Qual dica você dá para os tutores que estejam com seus pets com diagnóstico confirmado de doença renal?
Dra. Andréa – Uma vez que haja o diagnóstico ou a suspeita de doenças renais, o tutor deve procurar um médico veterinário especializado em Nefrologia que é o profissional capacitado a acompanhar a evolução clínica, detectar possíveis complicações inerentes a nefropatia e orientar as melhores condutas terapêuticas para a doença em questão.
Atualmente, a detecção precoce da DRC permite que a sua evolução seja o mais lenta possível, e assim o paciente tenha uma longevidade maior, e sobretudo com qualidade de vida.

Por Ana Lúcia Guarnieri


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