Heitor Fioravanti
Heitor Fioravanti é médico veterinário especializado em Clínica e Cirurgia de Cães e Gatos pela USP, em Pets Exóticos pela Famesp e em Ortopedia pela Unesp. Atua na Clínica Veterinária Dr. Niva (Itu).
Nesse bate-papo falamos sobre os perigos das altas temperaturas para os animais de estimação, como os tutores devem agir para amenizar o calor dos seus pets e cuidados em caso de incluí-los nas viagens de férias. Confira!
Revista My Pet – As altas temperaturas são prejudiciais aos animais de estimação?
Heitor – Sim! As temperaturas altas são bem prejudiciais à maioria dos animais (cães, gatos, pets exóticos, etc.).
My Pet – O que podem causar nos pets?
Heitor – Podem causar insolação, assim como ocorre com os humanos. Neles, é chamado de hiper-termia e pode, se não for tratado, evoluir para óbito do pet em questão.
My Pet – Quais são os efeitos do calor nos animais de estimação?
Heitor – O sistema de resfriamento dos animais é uma superfície muito menor que a dos humanos. Eles não transpiram pela pele. Os cães, por exemplo, transpiram principalmente pelos coxins (são as borrachinhas das patinhas) e pela boca (língua). Então é uma superfície muito menor de troca de calor diferente dos humanos que tem a pele e o corpo inteiro que transpira. Quando superaquece, não conseguem fazer essa troca de calor muito rápido e acabam cozinhando literalmente.
My Pet – Tem raças ou condições de saúde que contribuem para esse superaquecimento?
Heitor – Tem muitas raças que é necessário tomar mais cuidado, como os braquicefálicos, que são aquelas raças de focinho achatado como pug, shih-tzu, buldogue, lhasa-apso. Elas já têm uma dificuldade de troca de calor pela respiração e tendem a superaquecer mais rápido.
É importante ter também muito cuidado com animais filhotes, idosos e obesos, já que tem mais predisposição a hipertermia.
My Pet – Como saber quando o pet está com calor?
Heitor – Basicamente os primeiros sinais que demonstram é ficar mais ofegante, com a boca aberta e fazendo a respiração rápida. Às vezes ficam deitados em locais mais gelados, inicialmente. Depois começam a ter desmaio e evoluem para parada cardíaca e respiratória.
As aves começam a abrir as asas para aumentar a superfície de troca de calor. Nessa região elas não têm muita pena.
My Pet – O que o tutor pode fazer para oferecer mais conforto aos seus animais nessa época?
Heitor – Oferecer ao animal um local ventilado ou refrigerado de acordo com as suas necessidades; não os expor ao sol em horários indevidos; disponibilizar sempre água fresca; fazer uso de produtos como os tapetes gelados.
My Pet – As atividades físicas e os passeios, no caso de cães, devem ser mantidos na mesma frequência de outras épocas do ano?
Heitor – Deve-se evitar passeios das 11h até às 16h, que é o horário de pico do sol. Sair para passear de manhãzinha ou no fim da tarde, quando já não tem aquele sol mais forte.
É também muito importante o cuidado com o asfalto ou pisos quentes, porque causam queimaduras nos coxins e muitas vezes, graves. Imagina a gente andar descalço no asfalto ao meio-dia. Vai queimar toda a sola do pé, a mesma coisa com eles.
My Pet – O calor é o principal vilão do verão para os pets?
Heitor – O calor não é o único vilão do calor. Temos que sempre lembrar das doenças que aumentam nessa época do ano, principalmente as transmitidas por vetores. A Leishmaniose está aumentando os casos em Salto, Itu e Indaiatuba e a maioria dos cães não tem vacina. É uma vacina à parte, que não está inclusa na V10. Então, todos os cães devem, principalmente os que vivem em áreas que tem muito pernilongo, ser vacinados contra a Leishmaniose junto com o uso de repelente.
Outra doença que tem maior incidência no verão é a Giardíase, que é transmitida por um protozoário, está no ambiente e é relacionada com chuvas. Se o animalzinho vai ali passear, lambe o chão, pode acabar ingerindo o protozoário e se infectando. Esse protozoário vai direto para o trato gastrointestinal e é uma zoonose, ou seja, pode transmitir pra gente. Existe vacina também!
My Pet – Além da alta temperatura, o que pode ser perigoso para os animais de estimação nessa estação do ano?
Heitor – Uma coisa que é muito comum na região são os carrapatos e pulgas. Isso é o ano inteiro, mas no verão aumentam muito. Os tutores devem ficar sempre atentos ao uso dos antiparasitários. Hoje existem os comprimidos, que são muito práticos e tem uma longa ação, mas é de acordo com a característica do seu animalzinho a indicação. Sempre procure por um médico veterinário.
My Pet – Piscina, mar e praia. São locais adequados para pets? Quais cuidados são imprescindíveis nesses locais?
Heitor – São locais em que os pets podem ir sim, desde que supervisionados o tempo todo. Esse cuidado é necessário porque pode existir um risco de afogamento. No caso dos cães, o animal pode não estar adaptado à natação. Se for à praia é preciso atenção ao verme do coração, uma doença que tem alta incidência em regiões litorâneas e seu pet pode adquirir nesse passeio. Hoje existem medicações que são administradas antes e após viagem.
É preciso falar também sobre o lugar que ficarão hospedados, se aceitam pet. Se for pra ficar com o animal preso dentro de um apartamento ou num ambiente que não conhece, vai ser muito mais estressante do que deixá-lo em casa ou em um hotelzinho.
My Pet – É preciso cuidado com as janelas e varandas?
Heitor – Em relação às varandas e janelas altas é preciso tomar bastante cuidado. O ideal é que sejam teladas, com uma proteção para evitar fugas e acidentes. O animal acaba pulando, principalmente em época de festas, que tem fogos, barulho.
My Pet – E com o transporte dos animais em carros?
Heitor – O ideal são viagens curtas, com paradas para se reidratar e que o ambiente esteja refrigerado. Os petiscos podem ser dados durante o percurso. Deve-se evitar dar muita comida antes, já que tem animais que passam mal e precisam ser medicados.
Gato e pets exóticos eu evitaria de ficar transportando. Eles se estressam muito.
My Pet – Quais dicas dá para os tutores e pets passarem de forma saudável pelo verão?
Heitor – Várias: atenção ao horário dos passeios e proteger os coxins; manter o ambiente sempre bem ventilado e refrigerado (com as aves, é preciso cuidado); usar repelentes e protetores solares apropriados; verificar sempre a carteira de vacinação; em cães peludos, fazer a tosa para diminuir as camadas de pelo etc.
Aos tutores que os levarão em viagem, é importante que os passem em consulta com o veterinário para um check-up e verificação de que estão aptos; conhecer realmente o local que ficarão hospedados, para ver se é um ambiente apropriado e se vocês dois conseguirão aproveitar.
Por Ana Lúcia Guarnieri
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