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João José Soares Junior

João José  Soares Junior

 

João José Soares Junior é médico veterinário há mais de 30 anos. Tem pós graduação em clínica e cirurgia de pets não convencionais pela Anclivepa (2016).

É proprietário da Clínica Veterinária Pet Family, especializada em atendimento de cães, gatos e pets não convencionais (pequenos mamíferos, aves e répteis).

Nesta entrevista, conversamos sobre as decorações natalinas e também sobre as comemorações de ano novo em casas que há pets.
Vale muito a pena a leitura!

My Pet – Chegamos a mais um fim de ano, época em que os lares recebem os tradicionais enfeites natalinos. Em que momento os tutores devem preocupar-se com a saúde do seu animal de estimação?
Dr. João – Sempre devemos estar atentos a saúde de nossos animais, relativamente a alimentos inadequados, objetos perigosos pelo caminho, produtos de limpeza etc. Especialmente na época de festas natalinas devemos ter cuidados redo-brados e já começam na hora de tirar os adereços dos armários.

My Pet – O que pode ser utilizado na decoração e que não seja prejudicial aos pets?
Dr. João – Dê preferência para os objetos feitos com materiais indestrutíveis ou plástico, evitando objetos muito pequenos que podem ser ingeridos, sem barbantes e linhas pendurados. Os piscas-piscas devem estar em lugares altos, e se ligados a força elétrica, sempre com vigilância para evitar que brinquem com eles.

My Pet – O que deve ser evitado na decoração?
Dr. João – Nesta época utilizamos inúmeros enfeites e objetos. Quase tudo pode ser potencialmente perigoso para nossos pets. Festões e outros enfeites que contenham barbantes podem ser engolidos e provocar lesões gastrointestinais graves, que muitas vezes podem necessitar de cirurgias e perda de porções de alças intestinais e até o óbito se a intervenção não é realizada de prontidão. Muitas das tradicionais bolinhas e pingentes de Natal ainda são produzidas em vidro ou acrílico, que podem ser engolidas ou mastigadas, provocando cortes severos na boca ou até internamente.
Outros acessórios bem perigosos são as tão famosas “luzinhas” de Natal, tanto por serem engolidas e se transformarem em corpos estranhos lineares que podem cortar as alças intestinais, como pelo material de fabricação das pequenas lâmpadas que podem provocar cortes no sistema digestório. Obviamente, se estiverem conectadas a força elétrica, choques de pequenos a violentos podem provocar injúrias graves ou até a morte do animalzinho.
Colocar árvores de Natal no chão são tentações muito grandes. Castanhas e outros alimentos com fácil acesso aos animais com certeza também não serão perdoados.
Alguns animais têm uma hiperatividade acima do normal, sendo destruidores por natureza. Assim, árvores de Natal, pingentes, guirlandas, as meias de natal deixadas para que Papai Noel deixe seus presentes e muitas outras coisas podem ser destruídos e ingeridos pelos animais. Portanto, se seu animal tem essas características, todo cuidado é pouco.

My Pet – Sabemos que os gatos são muito curiosos. Há uma diferença de decoração a ser utilizada em lares que moram somente gatos de outros que tenham cães?
Dr. João – Gatos são realmente animais muito curiosos principalmente com objetos brilhantes e com movimento. Também adoram escalar árvores de Natal e retirar os objetos pendurados nela, especialmente as tentadoras bolinhas. Portanto bolinhas que podem se quebrar e formar fragmentos cortantes, pequenas lâmpadas piscantes, que podem ferir ou provocar choques, devem ser evitadas. Objetos pendurados com linhas e barbantes também são verdadeiras armadilhas.

My Pet – Existem riscos relacionados a decoração para outras espécies como as aves e roedores?
Dr. João – Sim, com certeza. Aves são curiosas, principalmente os psitacídeos (calopsitas, papagaio, periquitos e similares) e podem mordiscar fios elétricos, ingerir pequenos objetos e ingerir materiais potencialmente tóxicos, como baterias, metais pesados, objetos pintados com tintas tóxicas.
Já os roedores pelo hábito de roer, têm maior predisposição aos choques elétricos . Répteis podem ser atraídos pelas luzes piscantes também e podem achar que são alimentos, tomando choques ou sofrendo ferimentos cortantes, ou ainda ingestão, se tornando corpos estranhos no trato digestivo.

My Pet – Quais são os cuidados que os tutores devem ter quanto a decoração pensando nos animais de estimação?
Dr. João – Para não correr riscos ou pelo menos minimizá-los, utilize decorações longe do alcance dos animais. Pense como eles, como eles reagiriam, como eles são no dia a dia frente as novidades. Utilize objetos que não se quebrem, de tamanhos que não possam ser engolidos. Evite usar objetos ligados à rede elétrica, dando preferência àqueles com baterias, mas também cuidado para não deixá-las com fácil acesso a eles

My Pet – Em caso de acidentes com esses ornamentos, de que forma o tutor deverá agir?
Dr. João – Na maioria dos casos é necessário um pedido de socorro a um veterinário. Cada acidente merece um tipo de socorro específico. Evite a auto medicação, pois pode até agravar o problema, não tentar dar leite ou outros tipos de soluções para casos de intoxicação. Em casos de cortes, limpar a ferida, se for possível, coloque uma faixa compressiva em caso de sangramento e procure um auxílio veterinário de confiança.

My Pet – Muitos animais foram adotados na pandemia e tiveram pouco convívio com um número maior de pessoas. Tem alguma forma dos tutores prepará-los para as reuniões comemorativas do Natal e Ano Novo?
Dr. João – Do mesmo jeito das pessoas, os animais domésticos, principalmente os cães, também possuem suas mais variadas características de comportamento e psicológicas. Muitos deles são muito sociáveis e vão adorar estar entre os convidados. Por outro lado, terão aqueles que estarão arredios, com medo ou até ficar agressivos mediante o estresse do momento.
Um bom método seria convidar pessoas do círculo de amizade para vir visitá-lo e pedir para darem a eles algum biscoito ou alimento apropriado, receber carinhos, etc. No caso de animais potencialmente agressivos a simples presença do visitante, inicialmente sem forçar a amizade, para que ele se acostume com pessoas entrando na casa e só depois de mostrarem mais receptividade, tentar uma aproximação, tem chances boas de ir se acostumando. Após isso grupos maiores, com crianças, podem ser convidados para casa e tentar o mesmo procedimento.
Infelizmente alguns pets podem não se acostumar, e o correto seria poupá-los de um estresse maior. Gatos geralmente são avessos a barulhos e movimentos maiores em seu território. Coloque-os em um quarto fechado, com agua, alimentos, e caixas de areia para suas necessidades. Do mesmo modo as aves, roedores e répteis não devem ser submetidos a estresse desnecessários.

My Pet – Há como fazer também uma dessensibilização do animal em relação ao fogos de artifício, que apesar de serem proibidos os com estampidos ainda são comercializados?
Dr. João – Sim, sim. Tendo tempo hábil, colocar sons baixos de fogos de artifícios, por alguns minutos por dia, e quando se sentirem confortáveis, aumentar aos poucos o volume. Ás vezes funciona.
Durante esses momentos não demonstre preocupação com o barulho e continue com os seus afazeres normalmente. Nunca valorize o medo, se possível ignore, podendo agradá-lo, mas passando energias tranquilas ao pet. O uso de florais, homeopatias e, às vezes, medicamentos ansiolíticos, são boas opções para amenizar o medo.

My Pet – Caso o tutor não tenha esse tempo anterior as festividades, há alguma coisa que possa fazer nessas noites relacionadas aos fogos? Como acalmar o animal?
Dr. João – Se possível procure um veterinário com antecedência para avaliar a necessidade de uso de uma terapia medicamentosa para amenizar o medo. Na hora dos fogos, procure deixar o animal em um ambiente tranquilo, podendo colocar uma música mais alta, evitando lugares que tenham janelas de vidro ou objetos que possam se quebrar se ele entrar em pânico. Se não for comemorar no momento, fique junto com ele, mas leia um livro, assista um filme, tentando fingir que não esta acontecendo nada de grave. Mas se o próprio tutor tiver medo ou um sentimento de rancor contra fogos, muitas vezes os pets sentem essa energia de raiva ou medo do seu “chefe” e se tornam mais apreensivos ainda. Controle seus sentimentos quando estiver junto ao seu pet, eles percebem as nossas energias facilmente.

My Pet – Em relação à alimentação, a que os tutores devem atentar-se? É importante que comuniquem aos convidados o que dar ou não aos seus pets?
Dr. João – A alimentação é outro ponto de muita atenção. Nessa época de festas os alimentos temperados, gordurosos e os doces deliciosos podem se tornar verdadeiros pesadelos de intoxicação alimentar em nossos pets. As macadâmias (tipo de castanha), os chocolates, as carnes de porco ou mesmo um simples peru temperado, podem provocar graves enterites, hepatites, pancreatite e às vezes, complicando para casos com risco de óbito. Frutas como uvas, acaí, abacates, também podem ser potencialmente tóxicas.
Peça especial cuidado aos seus convidados em não oferecer qualquer alimento da ceia, tomando cuidado em não deixar pratos e bebidas pelo chão.
Em contrapartida, deixe a disposição alimentos próprios para seus animais como biscoitos, barras de cereais, os chamados “chocãotones” (que se assemelham muito aos nossos chocotones, mas com conteúdos adequados para nossos pets), frutas e legumes. Até bebidas próprias para os animais também estão mais acessíveis nos pet shops. A festa será muito mais divertida com a oferta destes produtos na ceia de fim de ano.

My Pet – O que a ingestão de produtos inadequados pode causar no animal?
Dr. João – Geralmente os quadros gastrointestinais, como vômitos e diarreias, são os mais comuns. Sintomas neurológicos podem surgir com a ingestão de macadâmias, chocolates e o açaí.

My Pet – Quais sintomas o animal apresentará quando comer esses produtos que fogem da dieta tradicional?
Dr. João – Às vezes terá somente uma falta de apetite e cólicas temporárias, mas pode evoluir para vômitos, diarréia (muitas vezes com a presença de sangue), tremores, convulsões, chegando até ao coma. Podem ir surgindo com o agravamento do quadro e do tipo de alimento ingerido.

My Pet – É viável sempre buscar ajuda com o médico veterinário?
Dr. João – Com certeza. Sempre deixe a mão o telefone de emergências do seu veterinário de confiança, já que muitas vezes os sinais ainda aparecem nos dias de feriado. Quadros leves podem ser somente observados por algumas horas, mas a qualquer sintoma mais grave procure socorro imediato. Quando a ingestão de um produto sabidamente tóxico foi recente, o auxílio do veterinário pode ser fundamental, muitas vezes podendo ser provocados vômitos ou medicamentos apropriados para reverter o processo ou pelo menos amenizar os sintomas.

My Pet – Há algo que os tutores possam fazer num primeiro momento?
Dr. João – Difícil de fazer uma orientação nesses casos. Ficar tentando dar medicamentos caseiros, antitóxicos, carvão ativado, leite, vinagre, e tantas outras coisas da sabedoria popular, podem até agravar o problema, além de ficar perdendo um tempo importantíssimo para um socorro mais específico pelo veterinário.


My Pet – Qual dica você dá para que os tutores e pets passem por esses festejos tranquilamente?
Dr. João – Planejem, pensem e repensem todas as possibilidades de intoxicações e acidentes antes das festividades, para que assim, no dia da festa, possam desfrutar com tranquilidade o encontro com a família, amigos, e lógico, com nossos amados pets, celebrando com toda a felicidade que merecem!

 

Por Ana Lúcia Guarnieri


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