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Hoje vamos falar sobre o nosso querido gambá

Hoje vamos falar sobre o nosso querido gambá

Todo ano milhares de pessoas reclamam sobre gambas nas casas comendo ração de seus animais de estimação e vivendo por um tempo com seus filhotes no forro das casas, e isso incomoda muita gente, porem podemos nos assegurar que são muito mais fofos do que imaginamos.

Seu nome comum deve ter se originado da língua tupi-guarani e vem de guámbá, gã´bá ou guaambá, que quer dizer ventre aberto, ou saco vazio, fazendo menção à sua barriga oca por causa da bolsa onde cria os filhos. Típico das Américas, é um mamífero marsupial, assim como o canguru.

Dependendo da região, é conhecido também como opossum (Portugal), mucura (Amazônia e Região Sul), sariguê (Bahia a Pernambuco), ou timbú (Ceará).

Pertence à Ordem Didelphimorphia, Família Didelphidae, e seu nome cientéfico é Didelphis sp. Habita desde o sudeste do Canadá até o sul da Argentina, principalmente as florestas, porém tem se adaptado bem à presença humana, vivendo também próximo ao ser humano, entrando em chácaras, quintais, e até mesmo em grandes centros urbanos.

Também é erroneamente chamado de “raposa” em boa parte do Brasil, principalmente na Região Sul, talvez pelo fato de eventualmente atacar alguma galinha. A verdadeira raposa (gênero Vulpes) é do Hemisfério Norte, principalmente Europa e Rússia, e no Brasil o exemplar que mais se aproxima de uma raposa pela sua grande semelhança física é o graxaim (gênero Cerdocyon) que está mais próximos do gênero Canis, ao qual pertencem os lobos, absolutamente distante do gambá (gênero Didelphis).

O gambá possui um líquido fedorento produzido por glândulas odoríferas que é utilizado como meio de defesa quando perturbado. O cheiro também é exalado pela fêmea em maior quantidade na época em que está no cio e tem a função de atrair o macho, afinal, gosto é gosto… Este cheiro é um dos motivos por ele ser tão discriminado.

O gambá pode ser domesticado sim!

O gambá é um animal com 40 a 50 centímetros de comprimento, sem contar com a cauda que chega a medir 40 cm, com um corpo parecido com o rato. O gambá mede de 40 a 70 centímetros (o gambá-de-orelha-preta é maior). A cauda tem pelos apenas na região proximal, é escamosa na extremidade e é preênsil, ou seja, tem a capacidade de enrolar-se a um ramo de árvore. As patas são curtas e têm 5 dedos em cada uma, com garras. O hálux (primeiro dedo das patas traseiras) é parcialmente oponível (como o polegar da mão humana) e, em vez de garra, possui uma unha, é usado para agarrar e escalar galhos. É muito ágil no alto das árvores, podendo andar sobre fios de luz, mas sua mobilidade no solo é lenta e desengonçada.

A fêmea pode dar à luz até três vezes durante o ano, parindo até 20 filhotes em cada gestação, que dura 12 a 14 dias. Como nos restantes marsupiais, ao invés de nascerem filhotes, nascem embriões com cerca de um centímetro de comprimento, que se dirigem à bolsa, onde ocorre uma soldadura temporária da boca do embrião com a extremidade do mamilo. Os filhotes permanecem no marsúpio até uns 3 meses.

O nome “marsupial” é originário do latim marsupiu, que significa pequena bolsa, e está relacionado à presença de uma bolsa de pele que fica no ventre da fêmea. O aparelho reprodutor é bem diferente dos demais mamíferos.

A fêmea possui dois úteros, duas vaginas laterais e uma vagina mediana, denominada canal pseudovaginal. As vaginas laterais servem apenas para conduzir o esperma para o interior dos úteros. O canal pseudovaginal permanece fechado até o momento do parto, quando se abre para permitir o nascimento dos filhotes. Os machos possuem um pênis bifurcado que possibilita a disseminação do sêmen para o interior das vaginas laterais da fêmea.

O período de gestação é de apenas 12 a 14 dias. Os recém-nascidos são chamados de altriciais, pois nascem num estágio pouco desenvolvido. Os frágeis filhotes nascem com cerca de 2 cm de comprimento, ainda não enxergam nem possuem pelos. Seus membros anteriores, porém, são bem desenvolvidos, assim como os músculos faciais e da língua. Estas características permitem que eles se prendam fortemente aos mamilos existentes no interior do marsúpio e comecem a mamar imediatamente.

Os filhotes permanecem no marsúpio até completar seu desenvolvimento. O tempo de desenvolvimento dos filhotes na bolsa é bem maior do que o período de gestação, podendo levar até três meses. A lactação continua mesmo com os indivíduos jovens, que podem ser observados entrando e saindo da bolsa da fêmea. Quando saem e, ainda não capazes de viver sozinhos, são transportados pela mãe em seu dorso. Podem viver até 4 anos.

Além de exalar seu cheiro característico como defesa quando ameaçado, outra estratégia para escapar dos perigos é o comportamento de fingir-se de morto até que o atacante desista. Alguns gambás são imunes ao veneno de serpentes, incluindo as jararacas, cascavéis e corais, podendo atacá-las e ingeri-las.

A maioria das espécies possui hábitos noturnos e uma dieta onívora, que pode incluir frutos, insetos, raízes, vermes, crustáceos (caranguejos em áreas de mangue), moluscos, néctar e pequenos vertebrados (sapos, lagartos, serpentes, ovos e aves). É considerado um dos maiores predadores de escorpiões, até mais do que as galinhas. Colabora no controle das espécies consideradas pragas para a agricultura, como os roedores e insetos. São também bons dispersores de sementes através das fezes, ajudando a natureza a plantar o que o homem destrói.

Na natureza têm como principal predador o gato-do-mato (Leopardus spp.), enquanto nas cidades são frequentemente atropelados por terem a visão ofuscada pelos faróis e por sua pouca mobilidade. Não vivem em grupos, mas na época da reprodução formam casais e constroem ninhos com folhas e galhos secos em buracos de árvores.

No território brasileiro há pelo menos quatro espécies:

Didelphis aurita – Gambá-de-orelha-preta

Em todos os biomas do Estado de São Paulo e Paraná, principalmente nas regiões de Mata Atlântica e nos estados próximos; ocorre também no norte do Rio Grande do Sul e Amazônia; o que o distingue das outras espécies de gambás, é sua orelha preta e sem pelos.

Didelphis albiventris – Gambá-de-orelha-branca

Brasil Central, especialmente no Estado de São Paulo e no Rio Grande do Sul; também endêmico no Nordeste, especialmente Pernambuco, onde é denominado timbu; apresenta como característica marcante as orelhas cobertas por uma fina camada de pelos brancos. Aprecia aves e ovos, possui ainda um gosto especial por sangue. Quando captura seu alimento, o gambá abre o pescoço da presa, rompendo a jugular para se alimentar do sangue, que verte em abundância. Não é um animal perigoso para o homem, desde que não seja incomodado.

Didelphis marsupialis – Gambá-comum

Desde o Canadá ao norte da Argentina e Paraguai; no Brasil, principalmente na região amazônica; e Didelphis paraguaiensis – Rio Grande do Sul e Mato Grosso, podendo também ser encontrado no Paraguai.

As espécies de marsupiais são importantes na dinâmica das comunidades da mata atlântica. Alguns desses animais, como o Didelphis aurita, a cuíca-lanosa (Caluromys philander) e a cuíca (Micoureus travassosi), são eficientes dispersores de sementes. O gambá pode até atuar como controlador das populações de roedores silvestres.

Doenças transmitidas por gambás

Os gambás que vivem em centros urbanos têm a tendência de revirar lixos orgânicos em busca de alimentos. Eles são atraídos quando há disponibilidade de alimentos, assim como os roedores, mas vale destacar que os gambás não são roedores, apesar de causarem confusão por causa da aparência.

Algumas das doenças que podem ser transmitidas pelos gambás são verminoses, sendo que as mesmas podem também ser transmitida por cães e gatos, e leptospirose. Ainda, os gambás podem transmitir a raiva quando mordem e também servir de reservatório de condições transmitidas por meio de picadas de insetos, como a leishmaniose.

Verminoses são doenças provocadas por diferentes tipos de parasitas. Estes se instalam no organismo do hospedeiro em geral nos intestinos, podendo também afetar o fígado e o cérebro, por exemplo. Os vermes podem ser nematelmintos ou platelmintos, sendo a lombriga um nematelminto e a solitária um platelminto.

A transmissão se dá por meio da ingestão de alimentos contaminados ou de água contaminada, assim como através de pequenos ferimentos na pele. O gambá, o cachorro e o gato, quando contaminados com verminoses, podem urinar ou defecar no solo contaminando a água e os alimentos. Com isso, a doença é passada para seres humanos que começam a sofrer de náuseas, dores abdominais, diarreia, vômitos e falta de apetite.

Escrito por Dra Juliana Guilherme (CRMV 24006), Médica veterinária especialista em atendimento de animais silvestres e proprietária  da Clínica Veterinária Pet Care Itu


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